MAPAS, ESCOLAS E ESQUINAS: UM OLHAR DISCENTE DOS BAIRROS MARCO E TAPANÃ NA PERSPECTIVA DA CARTOGRAFIA SOCIAL
A urbanização das cidades brasileiras, especialmente em regiões como a
Amazônia, tem provocado profundas transformações nas relações sociais, culturais
e geográficas de seus habitantes. Belém, capital do estado do Pará, é um exemplo
emblemático desse processo, onde os bairros do Tapanã e Marco refletem a
complexidade das interações entre os espaços urbanos e a identidade local. Nessa
perspectiva, Carlos (2017) destaca que o espaço vivido é o lócus de concretização
das relações sociais, ou seja, é nele que se materializam as práticas, os conflitos, as
contradições e as experiências cotidianas. Assim, o conceito de espaço vivido, tal
como proposto pela autora, fundamenta e estrutura esta pesquisa, pois permite
compreender a cartografia não apenas como técnica de representação, mas como
linguagem que expressa sentidos, vivências e relações sociais. Ensinar cartografia,
assim, é também ensinar a ler o espaço como uma totalidade complexa, marcada
por disputas, desigualdades e possibilidades de transformação.
Neste contexto, a cartografia social emerge como um recurso pedagógico
importante, permitindo que os alunos representem e reflitam sobre os espaços
urbanos a partir de suas experiências e vivências. Segundo Harley (2005), os mapas
não são representações neutras da realidade, mas sim construções ideológicas que
revelam visões de mundo específicas. O autor destaca três dimensões que
evidenciam esse caráter ideológico. A primeira diz respeito ao fato de os mapas
constituírem uma linguagem própria, vinculada a processos de produção e
interpretação que refletem determinados discursos sobre o espaço. Em segundo
lugar, a iconografia utilizada nos mapas — símbolos, cores, formas — serve como
instrumento de comunicação que não apenas transmite informações, mas também
reforça estruturas de poder político. Além disso, Harley argumenta que os mapas
têm influência direta na forma como a sociedade compreende o mundo à sua volta,
contribuindo para a formação de uma consciência política sobre os territórios
representados.